Firmeza espiritual e fraqueza na fé


Introdução:
· Vivemos em um mundo de grandes controvérsias. Tempos em que o fato de ser cristão, apesar dos muitos escândalos que têm ocorrido, ainda assim, representa um certo status social e muitos gostam de serem chamados de evangélicos, pois isto lhes soa com um tom de elogio, pois supostamente demonstra caridade.
· Contudo nota-se uma certa superficialidade no cristianismo de muitos destes “evangélicos” atuais. Observa-se que as pessoas têm se aberto para ouvirem belas mensagens de pastores e, até mesmo, para freqüentarem igrejas, mas falta-lhes o compromisso com a Palavra e a intrepidez de realmente fazerem diferença no meio em que vivem.
· As verdades do evangelho têm sido maquiadas e, em certo ponto até manipuladas para serem aceitas sem causarem algum tipo de “escândalo” em certas pessoas, escandalizando assim o próprio conteúdo da mensagem de Cristo. Lembro-me de uma mensagem que ouvi, ministrada pelo Pr. Ricardo Gondin, onde ele dizia que em muitos ambientes “evangélicos”, Jesus tem sido colocado como um mendigo que se encontra, quase desesperado, batendo na porta dos corações, pedindo, por caridade, que as pessoas deixem-no entrar, pois ele está do lado de fora, com fome, frio, etc.
· Tudo isso para poupar as pessoas de ouvirem que, na verdade, estão em rebeldia contra Deus e que são réprobos aos olhos do Senhor.
· A partir deste panorama, chega-se então à compreensão de que o mundo em que vivemos, apesar de estar aberto para as “igrejas (instituição – templo)”, ele ainda continua fechado para o verdadeiro compromisso com a mensagem e a fé em Cristo.
· Este fato já ocorria desde os tempos do apóstolo Paulo, que conhecia tanto o contexto do mundo em que vivia, como o de Timóteo. Paulo sabia muito bem o que era sofrer por pregar as verdades do evangelho de Cristo. Ele também conhecia as limitações, a doença e pouca idade de Timóteo, pois o tinha como a um filho espiritual. (2Tm.1:2)
· E assim como Paulo, em sua carta, advertiu ao jovem Timóteo a perseverar na doutrina já vivenciada por sua mãe, Eunice, e sua avó, Loide; também nós somos advertidos hoje a vivermos uma fé cristã genuína no mundo atual.

Transição:
Nesse sentido veremos três admoestações do apóstolo Paulo a Timóteo, que servem para que nossa vida cristã, na sociedade, seja digna do evangelho que recebemos:

1ª) Deus quer cristãos compromissados com o Cristo do evangelho (v. 6 Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus, que há em ti pela imposição das minhas mãos. 7 Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.)
· No verso 06 do texto lido, Paulo fala a Timóteo sobre despertar o “Dom de Deus”, recebido por ocasião do seu chamado ministerial. Este dom, vem do grego carisma (ca,risma) que, segundo Alfred Plummer é “a autoridade e o poder para ser um ministro de Cristo”. No caso específico de Timóteo, John Stott diz que esse carisma, provavelmente era relacionado com o seu ministério, uma vez que veio pela imposição de mãos, demonstrando sua “ordenação” ou “comissionamento”.
· Interessante é que Paulo faz uma exortação referente ao dom de Timóteo. Ele diz que este dom deve ser reavivado. Com toda a certeza, Paulo não estava pregando uma nova unção e nem estava inaugurando uma nova doutrina pentecostalizada do dom do Espírito. Este reavivar vem do verbo grego anazôpureô (avnazwpure,w), que é uma expressão apax legômena e demonstra que o dom é comparado ao fogo. Não que este dom, no caso de Timóteo, estivesse se apagando, necessitando de uma nova unção, mas o prefixo ana (avna), indica aumentar o fogo, mostrando que Paulo o exorta a continuar soprando sobre este fogo, o dom, para que o mesmo além de continuar aceso, ainda o inflame por inteiro. Desta forma, o apóstolo demonstra sua preocupação em que haja fidelidade com respeito à prática do evangelho, pois é esta fidelidade que mantém o fogo do dom inflamado.
· Lançado, então, este apelo vemos que no verso 07 Paulo justifica: Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação. Ao depararmo-nos com a pessoa de Cristo de que nos fala o evangelho observamos que, Jesus é diferente de muitos líderes que temos visto atualmente. Jesus não fazia nenhum tipo de barganha ou concessão com respeito à Verdade Eterna. Ele era extremamente duro e direto com respeito à Palavra (mesmo agindo sempre com amor) (lembrar o episódio do templo – Mt.21:12-17; Mc.11:15-19). A Sua ousadia e valentia eram notórias entre todo o povo.
· Desta forma, ao saber-se que não recebemos de Deus um espírito de covardia aprendemos que é necessário muita coragem para se viver o verdadeiro evangelho de Cristo hoje em dia. Coragem de não compactuar com heresias e nem com modismos que são atribuídos à ação divina. Coragem de expormo-nos publicamente ao contradizermos meias verdades, que são mentiras inteiras, ditas por muitos pastores e padres que tentam agradar as pessoas. Deus não precisa de agentes secretos. Devemos nos alinhar à frente da batalha e proclamarmos a plenos pulmões o que afirmam as escrituras com respeito à salvação em Cristo Jesus e à Sã Doutrina.
· O que recebemos do Senhor é:
- Espírito de poder, ou seja, ousadia e autoridade para pregar e testemunhar. Tem a ver com o caráter do ministro de Deus.
- Espírito de amor, que dá equilíbrio ao poder não permitindo que o mesmo se torne em arrogância. (o poder não é nosso, ele é de Deus)
- Espírito de moderação, que nos dá sobriedade para termos atitudes corretas e em tempo oportuno. Do grego sôphronismos (swfronismo,j/), que significa saúde mental, demonstrando domínio próprio.
Transição: Uma vez já tendo visto a necessidade do compromisso com Jesus e com o seu evangelho, veremos também que…

2ª) Deus quer cristãos compromissados com a Santa Vocação na qual foram chamados (v. 9 que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos,)
· Paulo trabalha a questão da salvação associada ao chamado divino. Isto é demonstrado no verso 09, onde está escrito que Cristo nos salvou, e chamou com uma santa vocação. Fomos salvos e vocacionados por Cristo para proclamarmos Sua Palavra, para o serviço no Reino.
· A santa vocação, klesei hágia (klh,sei a`gi,a|) na qual fomos chamados, tem uma profunda ligação com o chamado de Israel para ser santo, do hebraico Kadosh (vAdQ’), separados especificamente para Deus. John Stott afirma que “quando Deus chama alguém para si, também o chama à santidade”.
· Apesar desta chamada requerer de nós uma resposta positiva, sabemos que isto não significa que possamos rejeitá-la, pelo contrário, somos impelidos pelo Espírito Santo a obedecê-la e cumprí-la com afinco e amor. Nesse sentido, para que não paire qualquer dúvida sobre a verdade de que a predestinação e a eleição de Deus pertence à eternidade e não ao tempo, Paulo conjuga o verbo didumi (didwmi) que significa conceder, no particípio aorístico, ficando na forma dotheisan (doqei/san), para indicar que Deus de fato nos deu algo desde toda a eternidade.( mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos)
· Fica claro assim que a fonte de nossa salvação e de nosso chamado não provém de obras humanas quaisquer que sejam, mas sim do beneplácito divino.
· Tendo, assim, ciência da profundidade deste chamado, nos resta um devotado serviço ao Senhor, testemunhando, lutando contra heresias e pregando a Palavra, a tempo e a fora de tempo, como resultado de nossa resposta a Deus pela sua Graça derramada sobre nós.
Transição: Sabedores, então, que somos vocacionados por Deus para proclamarmos a Sua Palavra, veremos que Deus ainda quer mais de nós; …

3ª) Deus quer cristãos compromissados com os sofrimentos decorrentes da vida no verdadeiro Evangelho (v. 12 e por isso estou sofrendo estas coisas, todavia não me envergonho; porque sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia.)
· Quando esta carta a Timóteo foi escrita, provavelmente, Paulo estava preso em Roma pela segunda vez por causa do evangelho de Cristo, contudo ele conhecia verdadeiramente o Cristo do evangelho no qual ele cria e conhecia do Seu maravilhoso poder. (v.12 – porque eu sei em quem tenho crido).
· A Timóteo é enfatizado o sofrimento paulino e mostrado a necessidade dele também assumir a sua parte de sofrimento pelo evangelho (v. 8b participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus). O sofrimento por causa da cruz de Cristo, do evangelho, é algo que tem sido excluído de muitas mensagens. Pregadores sucumbem à tentação do silêncio com respeito a este aspecto. Pregam os méritos humanos em vez da cruz de Cristo, e, por vezes, substituem um pelo outro, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Stott diz que “ninguém consegue pregar com toda fidelidade o Cristo crucificado sem sofrer oposição ou até mesmo, perseguição”.
· Teólogos conhecidos, como Jürgen Moltmann e o próprio John Stott, ao tratar da Teologia da Cruz, afirmam unânimes que é impossível vivenciar as verdades do Evangelho de Cristo, sem vivenciar também os sofrimentos decorrentes desta Verdade. Dentro da própria igreja, quantos líderes não têm sofrido amargamente por estarem firmados na Rocha, enquanto suas ovelhas preferem estar firmados nos padrões liberais do evangelho do “tudo posso naquele que me fortalece” ?(Fp.4:13)
· Muitas vezes o compromisso com Cristo traz uma certa exclusão social, exclusão não no sentido de pobreza ou algo assim, mas no sentido de sermos taxados como fanáticos, pois, vivendo na verdade, não participamos de falcatruas, não participamos das rodas de palavras torpes, dos escarnecedores, não faltamos ao emprego sem motivo justificável, não mentimos e outros “nãos” a mais.
· Apesar de o nosso cristianismo não estar embasado pelas leis do “pode ou não pode”, a ética intrínseca na Palavra de Deus traz-nos uma exortação à conveniência (I Cor. 6:12a – Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm)
· Assim Paulo exorta a Timóteo e conseqüentemente a nós, a estarmos preparados para realmente fazermos diferença, ainda que para isso tenhamos que estar incluídos dentro dos vários “nãos” já citados, ou ainda que tenhamos que analisar a conveniência de nossas atitudes. Agindo assim, é muito provável que adentremos ao rol dos excluídos pela sociedade, conhecidos como “CRENTES VERDADEIROS”, ou “FANÁTICOS”.
Transição: Amados irmãos notamos que o fato de sermos cristãos nos traz vários compromissos pessoais; compromissos estes que estão diretamente ligados com o Cristo que nos é apresentado através do evangelho. Concluindo então esta meditação, somos constrangidos pelo Espírito a clamarmos a Deus para…

Conclusão
Que o Senhor nos conceda a Graça de podermos, com toda a intrepidez e coragem termos compromisso com o Cristo do Evangelho, com a Santa Vocação que recebemos dEle e com os sofrimentos da Cruz de Cristo; e assim, guardamos o padrão do verdadeiro evangelho de Cristo que recebemos e testemunharmos para o mundo atual que, embora sendo difícil, é possível sermos cristãos firmes na doutrina de Cristo em tempos de frouxidão de fé. (v. 13 Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouvistes com fé e com amor que está em Cristo Jesus. 14 Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós.) Que Deus nos abençoe.